Meu Tempo – Livro I contém várias epígrafes. Uma delas é esta, de Paul Valéry (1871-1945): “(...) duas maiores invenções da humanidade, o passado e o futuro.”
Anteontem (06/11/2024), um leitor amargo me disse: “Cara, mas que estupidez! Que história é esta de ´maior invenção da humanidade´, se existem tantas outras bem mais impactantes? Melhor seria dizer, o fogo controlado e a roda na pré-história; a escrita, na Antiguidade; a máquina a vapor e computador na Modernidade; sei lá o quê na Idade Média.”
As certezas geralmente não passam de ilusão de conhecimento. As respostas certeiras, tantas vezes são flechas que atingem o algo “na mosca”, embora não o alvo desejado.
O leitor prepotente mal se deu conta de que ao exemplificar invenções impactantes, as localizou em eras do passado. Ou seja, para falar delas, teve que recorrer a uma das maiores invenções citadas por Valéry. As armadilhas não seriam armadilhas se fossem apresentadas como tais...
O fato é que ao considerar o passado e o futuro como as maiores invenções da humanidade, o autor francês está dizendo, de fato, que a maior invenção da humanidade é o humano. Sim, porque somente o homem percebe-se na História, dá-se conta de ter um passado e um futuro. Somente o homem, dentre as espécies, fugiu da gaiola do eterno presente; somente o homem consegue ver em perspectiva e em retrospectiva quando lança o olhar sobre o tempo; somente o homem salta fora da masmorra da eternidade, muito embora viva a sonhar com um paraíso que lá se encontra; somente o homem inventou a si mesmo. Algo suplanta este feito? Sem ele, não haveria relógio, máquina a vapor ou computador.
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